A humanização do parto e do nascimento foi defendida por participantes de audiência pública na tarde desta segunda-feira (18) na sala das comissões da Câmara Legislativa do Distrito Federal. O mediador do debate, deputado Fábio Felix (PSOL), argumentou pelo respeito à atuação das doulas em hospitais do DF. Nesse sentido, sugeriu a divulgação da legislação que resguarda esse direito, por meio da circulação de cartilhas em hospitais
Representante da Liga Acadêmica de Parto Humanizado da Escola Superior de Ciências da Saúde destacou que a institucionalização do parto começa nas próprias escolas e academias
A deputada Júlia Lucy (Novo) citou que os bebês que nascem em partos humanizados recebem os melhores índices de Apgar, teste que avalia a vitalidade do recém-nascido. Ao destacar a excelente avaliação da Casa de Parto de São Sebastião, que adota o parto humanizado, a parlamentar disse que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, prometeu-lhe concluir a construção das casas de parto em Ceilândia, no Gama e na Asa Sul. "Vamos batalhar pelas casas de parto e continuar pressionando", afirmou. Lucy, que está à frente da Promotoria da Mulher da Câmara Legislativa do Distrito Federal, criticou a intervenção do Estado no corpo da mulher em contraponto à autonomia "para parir como quiser", posição corroborada pelo deputado Leandro Grass (Rede), que frisou "a saúde da mulher em primeiro plano".
A presidente da Associação de Doulas do DF, Marilda Castro, reforçou a importância da assistência à mulher no ciclo gravídico puerperal. Ela lembrou o Estatuto do Parto Humanizado, que abarca, entre outros, o direito de a mulher ter uma doula durante o parto. Castro discorreu sobre as implicações da migração do parto domiciliar para o hospitalar, "mais frio e inadequado para a mulher", e suas consequências, como o aumento do número de cesarianas e nascimento de crianças prematuras. Castro e várias doulas presentes na audiência relataram dificuldades e impedimentos para entrar em hospitais a fim de acompanhar os partos.
Nesse sentido, a representante da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa), Dafne Harter, destacou o protagonismo da mulher no "plano de parto" e sua autonomia para escolher a forma e o acompanhante nesse momento.
Pré-natal – Segundo a representante da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Sislândia Freitas, o parto é um evento social familiar. Ginecologista e obstetra, com atuação no Hospital Universitário de Brasília por duas décadas, Freitas considerou que a assistência não começa no trabalho de parto, mas no pré-natal. "Não se discute parto humanizado sem falar em pré-natal humanizado", frisou.
Por outro lado, a presidente da Liga Acadêmica de Parto Humanizado da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), Caroline Souza, disse que a institucionalização do parto começa nas próprias escolas e academias, onde se ensina que a gestante é submissa à equipe de saúde. A estudante de enfermagem teceu ainda considerações sobre a questão da cultura machista e racista nesse processo.
Também enfermeira, a chefe da Assessoria de Redes de Atenção à Saúde da Secretaria de Saúde, Camila Gaspar, defendeu o envolvimento das escolas de saúde nas boas práticas de nascimento. Ela destacou a participação do DF na Rede Cegonha, programa do Ministério da Saúde para ações de atendimento voltadas à mãe e ao filho, do pré-natal aos dois anos de idade. Já a secretária adjunta de políticas para crianças e adolescentes do DF, Adriana Faria, argumentou que as consequências de partos traumáticos influenciam, inclusive, a primeira infância. Faria apoiou a criação da Semana de Atenção ao Parto, evento que poderá colocar na agenda social os temas debatidos hoje na audiência.
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